1975
HOMEM DE NEANDERTHAL
Na opinião da maioria dos críticos, este foi o melhor e mais impressionante espetáculo apresentado no Rio naquela época. A reação do público era só de elogios. Na saída do Hotel Nacional (RJ), todos se apresentavam surpresos com a alta qualidade do show de Ney Matogrosso, que pela primeira vez se apresentava sozinho, desde a extinção dos Secos e Molhados. Foram três meses de trabalhos intensos. Ney nesse tempo fez aulas de canto, expressão corporal e ensaiava sete horas com os músicos. “Eu queria fazer um trabalho sério, como foi feito, e, por isso, me dediquei a esse show vivendo cada minuto em função dessa ideia.”
Estava no palco para demonstrar toda a sua criatividade e talento como intérprete, que sabe equilibrar a expressão da voz com a do corpo. Bailarino que sabe cantar, se mostrando agora no palco mais solto, como um diamante lapidado. Brilhante, deixando seus admiradores cada vez mais fascinados.
O cenário era de palha, sacos de estopa e ossos sob uma iluminação discreta. No centro crinas de cavalo, sobre o corpo quase nu, a boca pintada de preto, os lábios agressivos e sensuais. Gingas, requebros e uma voz visceral ao som quente e latino da banda, eram nesse clima erótico e primitivo que Ney retorna à cena.
As músicas que ele cantava tinham cheiro de terra úmida, contrastando com a aridez do cenário, que era cheio de troncos de árvores e esteiras, cantos de pássaros, queixadas de boi, uma águia empalhada e uma luz azul ao fundo. O figurino era de Ricardo Zambelli, lindíssimo fazendo Ney parecer realmente como um bicho: uma pele de macaco cobria seus ombros, nos punhos, pulseiras de dentes de boi; nas costas, tortuosos chifres de carneiro e completando uma saia de pele de bode retalhada.
Um forte cheiro de incenso. De repente tudo se apaga e entram em cena os músicos. O holofote acompanha algo que se arrastava pelo chão, como um bicho. Era Ney que entrava em cena cantando “Homem de Neanderthal”, que falava de um homem primitivo que vivia a beira de um rio. Depois dançava rumba, tango, fado e antes de cantar “Bodas” de Milton Nascimento, Ney chegada a simular o vôo de um pássaro, o que arrancava demorados aplausos do publico. Chorava quando cantava “Barco Negro”, terminado o fado, atirava de lado o seu manto negro para cantar freneticamente a rumba “Coubanakan”. Era assim que Ney se mostrava ao público em seu primeiro show solo, envolvente e utilizando ao máximo sua expressão corporal.
SET LIST
Homem de Neanderthal
Bodas
Açúcar Candy
Idade de Ouro
Tercer Mundo
No Colo da Tarde
América do Sul
O Corsário
Pedra de Rio
1964 II
As Ilhas
Coubanakan
Barco Negro
Obs: As músicas podiam sofrer algumas alterações no decorrer doa shows.
Banda:
** Claudio Gabis – Guitarra e bandolim
** Jorge Omar – Violão e Viola
** Chacal - Percussão
** Elber Bedaque - Bateria
** Bruce Henry - Baixo
** Guilherme Vaz - piano
** Márcio Montarroyos - Trompete
** Sérgio Rosadas – Flauta e Sax
Produção:
** Cenografia - Vicente Pereira
** Guarda Roupa - Ricardo Zambeli
** Luz - Nando Cosac
** Contra Regra - Luiz Clericuzzi
** Direção de Arte - Rubens Gerchman
** Produção - Arte Final - Silvia Roesler
* texto e pesquisa: Marcia Hack