À Flor da pele

1991

À Flor da Pele

O espetáculo estreou no Hotel Nacional, no Rio. Foi um show de emoções dosadas pouco exteriorizadas, mas nem por isso menos intensa. No palco, dois astros de domínio absoluto de seus respectivos instrumentos. Um Rafael Rabello que criava sucessivamente acordes limpos e precisos no seu violão. O outro Ney, que brincava com a voz com a segurança dos grandes intérpretes. Durante o recital no qual tocavam clássicos da MPB, eles não trocavam uma palavra com a plateia.

Rafael tocava uma série de composições de Tom Jobim, entre elas “Samba do Avião”, “Anos Dourados” e “Luiza”, depois acompanhava Ney que cantava outros clássicos do maestro, como “Retrato Branco e Preto” e “Modinha”. Mas a música popular brasileira também ganhava destaque como em “Último Desejo”, e “Na Baixa do Sapateiro”.

Foi um show de virtuoses, que reafirmaram o talento de Rafael e apresentava um Ney Matogrosso inovador. O universo desse show foi praticamente o mesmo que o "Pescador de Pérolas", mas nele Ney se permitia maior descontração dando discretos rebolados, soltando alguns “ais” e prolongando agudos que soavam como quase gracejos. Nas interpretações vigorosas de “O Mundo é um Moinho”, “As “Rosas não Falam”, e “Autonomia”, três pérolas de Cartola, ele elevava notas, altera andamentos e praticamente gritava os versos de “Autonomia” contanto sempre com a cumplicidade de Rafael.

A ousadia nas interpretações por vezes irônica dos versos ressentidos de “Três Apitos”, sem em nome da modernidade deturpar a forma e o sentido dando um verdadeiro show com as antigas canções como “Da Cor do Pecado”, “No Rancho Fundo”, ”Caminhemos” e tantas outras que marcaram época, no bis quando os dois retornavam com Ney cantando “Alma Llanera” e “Balada do Louco”, foi um momento muito aplaudido.

O mais importante que se observou nesse show foi a coragem de Ney em interpretar antigas canções sem cair no lugar comum do repetitismo, ou no erro muito comum de procurar fazer algo novo e apenas repetir o recente. A atuação do cantor foi a de quem já ouviu repetidas vezes as canções, entendeu a letra e as sentiu respeitando as informações dos autores, transformando-as em coisas suas.

Para Ney o sucesso de público e crítica é gratificante, porque reflete que a sensibilidade das pessoas estava bastante aflorada, num pais em que teoricamente não deixa existir esse tipo de sentimento.

Obs: As músicas podiam sofrer algumas alterações no decorrer dos shows.

Set List

 La Catedral
 Modinha
 Retrato em Branco e Preto
 Molambo
 Da Cor do Pecado
 Tristeza do Jeca
 O Mundo e Um Moinho
 As Rosas Não Falam
 Autonomia
 Samba do Avião
 Luíza
 Prelúdio nº 3 para violão solo
 Prelúdio da Solidão
 Três Apitos
 Caminhemos
 Segredo
 Negue
 Na Baixa do Sapateiro
 Vereda Tropical

Bis

 Alma Llanera
 Balada do Louco

Músicos:

**Raphael Rabello - Violão

Produção:

** Iluminação - Ney Matogrosso
** Som - Ronaldo Lombardi
** Camareiro - Chiquinho
** Coordenação Geral - Luiz Clericuzzi (Luizinho)
* Três Apitos

* Texto e pesquisa de Marcia Hack







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