Bandido

1976

Bandido

Sem que o nome tenha algo a ver com o local do lançamento do disco, a primeira apresentação foi na penitenciaria Lemos Brito, durante a abertura do Primeiro Festival de música do Penitenciário do Rio de Janeiro. Subia no palco para uma platéia de 2000 pessoas, com os olhos arregalados prestando muita atenção naquele corpo magro, que não parava de se mexer como uma serpente, e naquela voz fina cantando cada vez com mais liberdade. Foi o maior sucesso tanto que o cantor teve que repetir a dose do show no Natal. A partir dessa experiência com os presidiários veio toda a idéia do show e de um novo disco.

O espetáculo nesse local foi maravilhoso, garantiu Ney, era um sonho antigo e não perderia essa oportunidade de aceitar o convite. “Achei tudo excelente”, dizia o cantor, enfim se libertando daquela ideia fixa de ser perfeccionista de se expor para as pessoas. Depois disso o show foi para o Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro onde então fez a sua grande estréia nacional.

”Tudo começou a partir de um bolero que a Rita Lee tinha feito para mim, 'Bandido Corazón'. Tinha pedido uma música pro Gil e ele fez 'A Gaivota', um vôo muito alto uma subida aos ares, bem livre, 'Mulheres de Atenas' que o Chico tinha feito para uma peça feminista, que não chegou a ser montada, tinha a guarânia do Odair Jose 'Cante uma Canção de Amor' uma música apaixonante entre outras.”

O show mostrava um Ney pintado apenas com os olhos contornados de preto e boca marrom, com um chapéu furado por um tiro inimigo, um pano amarrado na cabeça, colares, pulseiras, peito nu e botas até o joelho. Começava cantando “San Vicente” que logo contagiava os espectadores. Finalizava a música, agradecia os aplausos e andava para o outro lado do palco e cantava “Sangue Latino” outra interpretação fortíssima principalmente pela expressão de seu rosto a cada verso cantando. Nova mudança dentro do palco após o entusiasmo da platéia.

“Retrato Marrom” foi transformado em um contundente tango. Rebolava e se contorcia, provocante, seguia cantando “Metamorfose Ambulante” e depois “Pra não Morrer de Tristeza” até o momento culminante do show. O grande momento era diante de um espelho oval, em que Ney se contorcia com poses sensuais retirando os berloques e as poucas peças de vestimenta que cobria o seu corpo, jogava beijos para a platéia que delirava a cada movimento, animado pelos tambores cantava o bolero “Boneca Cobiçada” ficando quase totalmente nu, atrás de um biombo, e em frente a um espelho, fazendo o público correr na direção onde a imagem estava refletida procurando assim uma “visão mais interessante”, foi um deliro total.

Em seguida já vestido com uma calça mais leve Ney desce para os saracoteios de uma frenética rumba, entre as primeiras filas. Inconquistável ele finge mandar beijos. Abusava do jogo de cintura em sambas como “Trepa no Coqueiro”; em “Seu Waldir” mais uma vez descia e cantava no meio do público. Assumia a postura de uma ave encolhida e começava a cantar “Gaivota”, outra interpretação belíssima como tantas outras sempre sucedida por uma breve pausa para os agradecimentos, terminava brandindo enérgico com um porrete de osso na mão cantando “América do Sul”.
Havia muito humor e uma bem temperada dose de malícia, nesse show, com gosto de teatro de revista. Do fundo do palco, por exemplo, podia-se recolher ainda a lembrança de uma inevitável escada vitrina preferida das vedetes brasileiras. O cenário que muito lembrava o velho oeste era lindo, com um tronco de arvore ao centro, galhos secos, espalhados pelo palco tinha ainda redes, biombos, espelhos, caixas, um tablado imitando uma rocha e até uma caveira de boi.

Bandido percorreu as principais capitais brasileiras. A banda que o acompanhou nesse show foi Tecer Mundo que era composta de: Jorge Olmar (viola e violão), Roberto de Carvalho (guitarra e teclados), Elber Bedaque (bateria), Marcelo Salazar (percussão), Elias (piano, moog e bandolim), Jorge/Carvalho (baixo).

Ney mostrava toda a sua arte, deixando claro que nada mais restava do Ney do ex-Secos e Molhados, mas sim já com muito valor e reconhecimento próprio, estando muito mais seguro de si como ele mesmo afirmava.

SET LIST

Músicas:
 San Vicente
 Sangue Latino
 Cante Uma Canção de Amor
 Metamorfose ambulante
 Postal de Amor
 Pra Não Morrer de Tristeza
 Gaivota
 Com a Boca no Mundo
 Mulheres de Atenas
 Aqui e Agora
 Bandido Corazon
 Usina de Prata
 Airecillos
 Retrato Marrom
 Paranpanpan
 Trepa no Coqueiro
 Seu Waldir
 América do Sul

Obs: As músicas podiam sofrer algumas alterações no decorrer do show.

Banda:

** Grupo Tercer Mundo
** Roberto Carvallo - Teclados - Guitarra
** Jorge Omar - Violão,Viola
** Elber Bedaque - Bateria
** Jorjão - Baixo
** Marcelo Salazar - Percussão

Produção:

** Produção - GAPA
** Figurinos - Bill & Koury
** Iluminação - Efeito Ltda
** Som - Val & Val
** Direção de Cena - Luiz Clericuzzi (Luizinho)
** Administração - Valéria Gonçalves
** Supervisão Geral - Carmela Buss

* texto e pesquisa de Marcia Hack







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