2001
Batuque
O espetáculo estreou no ATL Hall no Rio. Ney Matogrosso é um cantor raro na MPB, que há 30 anos usa o corpo inteiro como obra de arte plástica anexada à sua voz nos shows. Em "Batuque", um show propositalmente caricato, parecia reviver no palco os filmes da Atlântida e seus exagerados cenários tropicais - não por acaso estão ali muitas das canções eternizadas por Carmem Miranda. Nove músicos, entre eles Jorge Hélder (baixo) e Zé Nogueira (sopros), mais gente que respira samba, como Marcelo Gonçalves (violão de 7 cordas) e Ronaldo do Bandolim, permitem que o cantor encha o lugar de saudosismo.
Vestido com uma calça preta com fendas nas pernas, uma camisa deixando o peito à mostra e um turbante dourado, Ney manipula o olhar e os ouvidos da platéia, que respondia com aplausos e elogios entusiasmados a seu rebolado inigualável. Palmeiras imperiais feitas com flicker (lantejoulas grandes) recriava o clima de teatro de revista proposto pelo cantor, que ressaltou a “carioquice” das músicas fazendo do calçadão de Copacabana o caminho de sua viagem ao passado. Na mínima brecha no script ouvem-se gritos de "lindo!" e "gostosão!" e, se no começo são só mulheres berrando, ao final da noite eram vozes másculas a bradar "eu te amo, Ney!". Em “Tico-Tico no Fubá”, iniciam-se os solos de sopro (Zé Nogueira no sax, Dirceu Leite na flauta) e bandolim (Ronaldo do Bandolim) que terão seus grandes momentos em “Bamboleô”. Ney acrescentou duas canções às 13 do disco, sem qualquer concessão à sua altivez de lotar teatros para ouvi-lo requebrando-se em raridades como “Urubu Malandro”, composta em 1914 por Louro e João de Barro.
Ney empolgava a platéia que lotou o ATL, com a indefectível "O que é que a baiana tem" (Dorival Caymmi); reviveu Assis Valente com "Maria Boa" e "E o mundo não se acabou”.
Perfeccionista, Ney sabe como fazer o público se tornar seu parceiro, acompanhando "Batuque na cozinha" e "Voltei pro morro". O show esquenta a medida que ele percorre o palco até chegar a hora de troca de roupa. Enquanto a banda lentamente se reúne no centro do palco, o cantor vai a um biombo onde faz uma suingada performance que deixa homens e mulheres em polvorosa. "O público gosta disso e não me custa nada fazer para agradá-lo, o que não significa que preciso fazer sempre, afinal, primeiro é preciso estar agradando a mim", comenta o artista. A volta ao centro do palco, com camiseta e calça preta bordadas de paetês, acontece com "O que é que a baiana tem?", que dá início ao segundo set de músicas, tão movimentado quanto o anterior. Ney interpretou "Barco negro", um fado que ficou eterno na voz de Amália, sendo um dos momentos mais comoventes do espetáculo.
Encerrando o show, podiam conferir a boa forma do cantor num conjunto preto cantando "Beija-me", encerramento sob medida para uma noite em que tudo aconteceu com perfeição para quem é tão bom que pode até dispensar os balangandãs.
Obs: As músicas podiam sofrer algumas alterações no decorrer dos shows.
SET LIST
Músicas
De Papo Pro Ar
Samba Rasgado
Tico-Tico no Fubá
Coração
Maria Boa
Batuque na Cozinha
Bamboleô
Adeus Batucada
Teu Retrato
Barco Negro
Um a Zero (Instrumental)
O Que È Que A Baiana Tem
Bambo de Bambu
Roxa
Urubu Malandro
Vatapá
El Manicero
E o Mundo Não se Acabou
Voltei Pro Morro
Bis
Beija-se
** Beija-me
Banda :
** Ricardo Silveira- Violão
** Marcelo Gonçalves - Violão
** Zé Nogueira- Sax - Soprano
** Zero - Percussão
** Dirceu Leite - Trompete
** Ronaldo do Bandolim - Bandolim
** Rogério Souza - Violão
** Zé Trambique - Percussão
** Bolão - Bateria
** Jorge Elder – Baixo
Produção:
** Direção - Ney Matogrosso
** Produção - João Mario Linhares
** Direção Musical - Ricardo Silveira
** Produtor Executivo - Krishna Viegas
** Luz - Juarez Farinon / Ney Matogrosso
** Som -Vitor Correia
** Cenario - Marcos ,Beto e Chico
** Camarim - Marivaldo Santos
* Texto e pesquisa de Marcia Hack